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domingo, 21 de agosto de 2011

Jornada.

Estou pronta
a plantar flores sobre pedras.
A sedar falsos alertas,
a abortar indiferenças
e a carregar sonhos
mesmo que se tornem fardos pesados.
Estou pronta pra suportar ventos gelados
e a jogar planos ingênuos
com fúria ao mar.
Estou pronta
pra encher o espelho de sorrisos,
fechar as porteiras das ameaças,
a driblar todos os perigos,
e a encerrar noites negras
com o brilho tôsco
de lerdas estrelas.
Estou preparada,
pra iluminar sombras,
adormecer personagens sem vida,
beber lágrimas em jarras,
a repudiar melancólicas recordações,
e a investigar os estranhos.
Estou apta,
a sorrir com a face amarelada,
a pisar em saudades travadas,
a matar baratas.
Estou disposta
a percorrer labirintos,
a desafiar abismos,
a debilitar dores reais.

Cecília Fidelli.


4 comentários:

  1. infinitas gracias dulce poeta por acariciar nuestros sentidos con tus bellas letras, un besin de esta amiga admiradora que te desea con cariño feliz inicio de semana.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. – via Orkut, em 21/08/2011, 23h04min.

    "Jornada" é um bom texto. Um tanto derramado e todo em primeira pessoa, fato que, psicologicamente, exclui ou minimiza a empatia do receptor pela indisfarçável possessão autoral. Porém, não há como confraternizar o escrito, a não ser pela dor confidencial. Todavia, há elementos imagéticos que o inserem dentro dos cânones da Poética. É um texto em que a Poesia permeia o fato não dito, e sim o SUGERIDO, como é da natureza específica deste gênero literário. Lembra a virilidade da poesia alemã e austríaca dos séc. XIX e XX, sempre frutificada pelos autores do sexo masculino, na chamada poesia sentencial, tutorial ou de aforismos, nos naipes do realismo. Em geral, esse tipo de discurso dificilmente ocorre nos laivos espirituais femininos. Na literatura luso-brasileira são muito pouco encontráveis exemplares desse tipo de discurso, exceto nos espécimes de poesia épica, como em Cecília Fidelli, no Romanceiro da Inconfidência, na voz dos personagens hauridos através da história colonial. Em Clarice Lispector, Adélia Prado, Hilda Hilst, Lila Ripoll, Lara de Lemos e em outros ditames poéticos, aparece a temática sempre mais enxuta e menos derramada, com a incidência de maior número de elementos figurativos e poéticos. Prevalece, como sempre, na grande poética, a SÍNTESE VERBAL. Poesia é fruto da contenção do derramamento de idéias traduzidas por palavras nem tão simples, nem tão corriqueiras, porém com uma carga metafórica vivificante e signos entendíveis pelo leitor mediano. Como é tema em que o VIVER e o MORRER estão presentes, o imaginário feminino, em regra, proscreve a constatação. Poesia de combate, de enfrentamento claro do jogo de vida e morte. Sobressai a maturidade espiritual dos que já sabem que a vida é apenas uma, e que é necessário enfrentar os dragões quotidianos. Aqui, a autora enfrenta os temores e os desafia, depois de “driblar todos os perigos,/ encerrar noites negras/ com o brilho tosco/ de lerdas estrelas.”. Aprendamos a lição de matar baratas, metáfora factual remissiva dos medos femininos. O desafio está posto. Para homens e mulheres.

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