Que louco !

A vida não nos dá nada.
Vai nos emprestando.
Com o passar do tempo,
vai nos tirando aos poucos,
o que pensamos que temos.
É como se estivessemos
esperando sentados num sofá
que já foi extremamente confortável.
Na real, embora a gente nem perceba,
já estamos numa cadeira de balanço.
Todas as paredes têm ouvidos,
apenas não respondem.
É mais ou menos assim.
A vida pode parecer interminável.
Mas apenas,
enquanto vai tudo bem.
Cedo ou tarde,
vamos sendo avisados.
Uns antes, outros depois,
vamos devolvendo tudo que recebemos.
Chegamos a trocar promessas
por melhoras.
Quando tudo fica realmente muito difícil,
é que tomamos consciência
do quanto tudo, até ontem, era tão fácil!
De repente nos vemos trancados
no silêncio nossas paredes.
Só que agora,
quebrando o galho.
É como se nos víssemos
do outro lado da rua,
e não pudéssemos mais nos alcançar.
Ir e vir pisando em rochas.
E morrer sobre flores desidratadas.
Truques dos quais a vida se utiliza
pra que nos perguntemos:
- O que fazer agora?
Será
que ainda vamos ficar devendo?
Sigo o brilho das estrelas,
ou os grãos de areia da praia?
Eu, apenas sigo,
com a diferença
que hoje,
peço licença pra passar.
Tão gratificante quanto cruel.
Corremos contra o tempo como sempre.
Mas depois dos cinquenta...
A vista falha, as pernas dizem
que não, não aguentam.
Depois dos cinquenta, sessenta...
passamos a correr em círculos,
ou então, em zig-zag.

Cecília Fidelli.