O que tem o inverno? O inverno vem lá das alturas, onde a sensibilidade desliza com o vento. Bate forte o coração e a temporada de calor poético entra em ação. Conheço bem as baixas temperaturas de Itanhaém, Campos do Jordão, Curitiba, das Serras Gaúchas, das paisagens Catarinenses. Ai! Que frio! Picos que sugerem agasalhos coloridos. Parece que no inverno, tem mais restaurantes românticos, mais bosques, noites de sonhos em acolchoados perfumados e macios. Mas em alguns pontos das cidades, não muito turísticos, alguns opostos não se atraem. Lá onde ficam os abandonados moradores de rua, carentes sob marquises, sobre papelões. Noites de pesadelos sem nenhuma energia. O inverno tem essa mistura de desigualdades, dissabores. Do lado de dentro lareiras, sopas cremosas, vinhos quentes, jantares com música ao vivo. Do lado de fora restos de comida extraídos do lixo. Poderia listar diversos cartões postais de inverno que enchem os olhos ignorando os "aventureiros" de plantão caminhando pra lá e pra cá congelados como se fossem pinguíns e outros com chás e cafés requintados. É... O inverno tem esses tristes roteiros. É preciso distribuir solidariedade. (Diga-se de passagem, não só no inverno). Distribuir agasalhos e calçados que a gente não usa mais. Contemplar famílias pobres com algum calor humano, algum conforto íntimo. Pão, chocolate, biscoitos, até pizza. Infelizmente, tudo na vida tem um preço. O inverno é uma boa oportunidade de aquecer alguns corações que se refugiam em baixo de pontes ou que vivem em barracos miseráveis cheios de buracos. Estamos todos unidos. Pobres e ricos na rota do destino. Mas o inverno e suas "leis" também dá as diretrizes de amor ao próximo. O inverno pode ter um significado mais humano sob a luz da razão. O inverno deixa todo mundo meio tristonho, solitário ... Mais um motivo pra raciocinarmos, de coração pra coração. O mesmo inverno que nos conduz a calientes paixões, conduz outras pessoas aos limites físicos. Como todas as outras estações é pra todos e o vento gelado, a fome, a garoa constrangedora, são inescrupulosos. Abrigo e proteção para muitos pode ser simplesmente, aquela velha colcha de retalhos mágica, que nem usamos mais e a esperança de viver um clima mental diferente. Que chegue uma neve de cobertores às creches, aos azilos, aos albergues. O inverno é o tempo certo para socorrermos os feridos na alma. Que hajam muitos espetáculos refinados nos festivais de inverno, mas que nas encruzilhadas das incertezas, o aroma das mansões luxuosas possam também esquentar sonhos porque é impossível adormecer com fome, amordaçar o frio.
Cecília Fidelli. - Escrito em Junho de 1976. |
Foto das águas geladas do mar
ResponderExcluirno inverno-2012,
de Itanhaém
tirada pelo meu filho
Felipe M.Fidelli.